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Avaliação do Mercedes-Benz SLK 200 K Sport


No seleto grupo de marcas premium, a ordem é povoar o imaginário coletivo, consumidor ou não, como objeto do desejo. E quanto maiores e mais exclusivas as doses de status, requinte e tecnologia, melhor. Um roadster, por exemplo. Com espaço limitado, é o tipo de modelo que tem um charme intrínseco. A tal ponto que a assinatura de uma marca premium na ponta do capô fica parecendo ostentação. O Mercedes-Benz SLK se enquadra bem nesta lógica. Com um desenho arrojado, bastante luxo e a estrela de três pontas no capô, o roadster da montadora alemã é pioneiro entre os carros com capota rígida retrátil. Ele cumpre bem o papel de atrair olhares e inveja – boa e má – por onde passa. Ainda mais nas ruas brasileira, habitadas por muitos modelos desfavorecidos, como os compactos de entrada.

O design do SLK é o principal chamariz e tem traços herdados da extinta parceria da Mercedes com a McLaren. O capô comprido e abaulado tem ressalto bem ao centro, que insinua um bico de carro de F1. Ele vai até a tomada de ar superior, com grade tipo colmeia. As duas aletas que se projetam lateralmente, na altura do grande emblema da marca, também insinuam uma asa dianteira de um F1. A maior mudança no face-lift de 2008 foi no para-choque.

Ele ficou mais largo e as molduras dos faróis de neblina ficaram maiores. E passaram a ser separadas da grande entrada de ar inferior por barras inclinadas – antes, eram verticais. O desenho harmoniza melhor com os faróis em formato de folha, com a ponta inferior bastante pontiaguda e os contornos superiores arredondados.

Visto de perfil, o roadster dois lugares transmite a sensação de movimento. Uma percepção reforçada pela linha de cintura em cunha acentuada e ao capô com traços angulosos.

Um vinco na lataria corta o estilo predominantemente “liso” das laterais e acompanha de forma quase fidedigna a linha de cintura. Os para-lamas bojudos inserem uma dose de robustez ao modelo. Com a capota fechada, o SLK ainda ostenta um teto retrátil com caimento em arco. Na traseira, as generosas lanternas delimitam o corte do porta-malas e invadem discretamente as laterais. Do para-choques bojudo se projetam duas ponteiras de escapamento trapezoidais. Na tampa do porta-malas, um aerofólio em forma de “arco” traz o brake-light embutido.

No interior, requinte e o desenho clássico típico dos Mercedes. O revestimento obviamente é em couro e há detalhes em aço escovado por várias partes do painel. O volante concentra comandos do som e do Bluetooth e paddle-shifts para mudanças de marchas sequenciais. O quadro de instrumentos conta com mostradores cônicos. Os bancos esportivos tem as extremidades mais largas e salientes e um console central serve de descansa-braço. O teto pode ser aberto ou retraído em 22 segundos através de um botão na base do console ou através de um comando na própria chave do carro.

A lista de equipamentos segue a lógica. Na parte de segurança, o SLK 200 oferece controles eletrônicos de estabilidade e de tração, airbags frontais e laterais, freios com ABS e EBD, faróis bixênon e retrovisores interno e externo esquerdo eletrocrômicos. Nos itens de conforto, equipamentos previsíveis e obrigatórios para um carro deste quilate: ar automático, direção hidráulica, trio, regulagens elétricas do banco e do volante com memórias, assentos com aquecimento, rádio/CD/MP3 com interface com iPod, Bluetooth, sensor de chuva, controle de cruzeiro com limitador de velocidade e computador de bordo, entre outros.

Sob o capô, o SLK 200 guarda um motor 1.8 com compressor mecânico, 184 cv a 5.500 rpm e torque máximo de 25 kgfm entre 2.800 e 5 mil giros. A unidade de força trabalha com um câmbio automático de cinco velocidades. Desta forma, o roadster custa R$ 210.676. Seus concorrentes entre as marcas premium seriam o BMW Z4 sDrive 23i, que parte dos 217 mil, e o Audi TT Roadster, que custa R$ 215 mil. Ambos têm motores mais potentes, respectivamente 204 e 200 cv, mas nenhum é cupê-conversível, ou seja, contam com teto rígido. Poder abrir e fechar a capota ao simples toque de um botão, além de tornar o carro mais versátil, é sempre um charme a mais.

Instantâneas
# A primeira geração do Mercedes-Benz SLK foi apresentada no Salão de Genebra de 1996.
# O roadster da marca alemã recebeu um face-lift em 2000, quando ganhou também motor 3.2 V6.
# A atual e segunda geração do SLK foi lançada em janeiro de 2004 e sofreu uma reestilização em 2008. O SLK 350 chegou ao Brasil ainda em 2008, mas a versão 200 K desembarcou somente em setembro do ano passado.
# No Brasil, o roadster é vendido atualmente apenas na versão 200 K Sport e na “preparada”
AMG, com propulsor 5.4 V8 de 360 cv.
# Na Europa, o modelo conta ainda com uma versão 3.0 V6 de 231 cv.

Ponto a ponto

Desempenho – Apesar da boa potência, de 184 cv, falta ao trem de força do SLK uma maior agilidade. Ao se pisar no pedal direito, o motor 1.8 com compressor mecânico do roadster da Mercedes demora a se entender até dar uma resposta satisfatória. Isso é percebido nas arrancadas, mas depois o roadster deslancha. É possível fazer um zero a 100 km/h em 8,1 segundos. Nisso, colabora decisivamente a boa relação peso/potência de 7,5 kg/cv. Dada a largada, o SLK desenvolve bem e o câmbio de cinco velocidades se mostra bem escalonado na maior parte do tempo – só mesmo entre a terceira e a quarta marchas as relações são mais abertas que o desejável. As retomadas são beneficiadas com um torque máximo de 25 kgfm inteiramente à disposição dos 2.800 aos 5 mil giros, o que mantém o motor sempre cheio para as acelerações. Nota 8.

Estabilidade – O SLK parece grudado no chão, tanto nas curvas como nas retas. A carroceria oferece uma rigidez torcional muito boa, mesmo com o teto aberto, e o modelo não faz menção de desgarrar nas curvas. Ao se entrar mais agressivamente nas curvas, é possível perceber os controles de estabilidade e de tração em ação, mas nada disso é transferido para os ocupantes.

Nas retas, mesmo acima de 200 km/h em trecho plano e livre, a comunicação entre rodas e volante se mostra precisa. Nas freadas bruscas, o carro se mantém na trajetória e sob o comando do motorista, auxiliado pelo ABS e EBD dor freios. Nota 10.
Interatividade – O roadster é o típico carro que “veste” o motorista em todos os sentidos, inclusive no ergonômico. A maioria dos comandos fica ao alcance do motorista e o quadro de instrumentos oferece uma leitura rápida e objetiva. Só mesmo as operações do computador de bordo causam estranheza, devido aos comandos no volante pouco intuitivos. O volante e o banco do motorista contam com ajustes elétricos, mas a posição de dirigir é sempre esportiva e rebaixada e os botões para mexer no assento são de difícil acesso, o que obriga o condutor a espremer a mão para acioná-los ou abrir a porta. Com a capota fechada, a visibilidade traseira fica comprometida com o agravante que o roadster, apesar de custar mais de R$ 210 mil, não tem um prosaico sensor de obstáculos. A direção é precisa e pesada para privilegiar a condução mais esportiva. Nota 8.
Consumo – O modelo fez a média de 8,3 km/l em uso 2/3 na cidade e o restante na estrada. Nada assustador para um roadster com transmissão automática e com motor com compressor mecânico. Nota 7.

Tecnologia – A plataforma do SLK data de 2004 e deve mudar daqui a dois anos. O modelo conta com um moderno motor com compressor mecânico e uma suspensão traseira multibraços eficiente. Os itens de conforto e de segurança são previsíveis para um carro do chamado segmento premium e que custa pouco mais de R$ 210 mil, como controles de estabilidade e de tração, airbags, freios com ABS, Bluetooth e ar automático. Peca em alguns detalhes, como a falta de um sensor de obstáculos, aviso de faróis acesos e mais itens de entretenimento. Nota 8.

Conforto – Como todo roadster, o SLK privilegia design e esportividade em detrimento de conforto. O interior do veículo é quase um cockpit e os bancos esportivos e mais rígidos envolvem o motorista até demais. Em viagens longas, chega a ser desconfortável, principalmente pela pouca distância entre o assento e o piso do carro. O espaço para pernas e ombros é satisfatório, mas com a capota fechada o vão para cabeças deixa a desejar no caso de pessoas com mais de 1,75 m de altura. A suspensão é outro item negativo: soca bastante e não filtra nem as emendas no asfalto.
O isolamento acústico, em contrapartida, beira a perfeição. Nota 6.

Habitabilidade – Pelo teto baixo, o modelo produz uma situação claustrofóbica. Além disso, achar um lugar para pousar a carteira ou o celular é uma tarefa inglória dentro do roadster, já que os porta-objetos e porta-copos inexistem. Os acessos ao carro também são complicados, problema inerente à maioria dos roadsters. A altura diminuta e os bancos rebaixados e com ombros largos obrigam os ocupantes a contorcionismos. Nota 6.

Acabamento – É um Mercedes e, como sempre, há um cuidado extremo com as peças e revestimentos internos. Os materiais usados aparentam qualidade e bom gosto e satisfazem aos olhos, ao tato e até ao olfato – o couro dos Mercedes exala um cheiro agradável e característico da marca. Os encaixes e fechamentos também são precisos. Nota 9.

Design – É o grande apelo do SLK. Com suas linhas arrojadas e seu perfil esportivo, o roadster apresenta um estilo instigante, que atrai olhares por onde passa. A capota que pode ser recolhida em 22 segundos entrega o charme a mais ao carro da Mercedes. Nota 10.

Custo/benefício – Por ser um modelo pequeno e pouco prático, o SLK normalmente será o segundo ou terceiro carro da casa e vai funcionar como "brinquedo". Só que por um valor bem salgado, de R$ 210 mil. Por outro lado, entrega status, tanto pela estrela de três pontas na ponta do capô quanto por suas linhas angulosas e arrojadas.
Sobre os roadsters rivais tem a evidente vantagem de ser um cupê-conversível, enquanto Z4 e TT são "apenas" cupês. Nota 8.


Total – O Mercedes SLK 200 K Sport somou 80 pontos em 100 possíveis

Impressões ao dirigir - O céu por testemunha

A tentação de recolher a capota em um roadster é quase irresistível. No caso do SLK, mais ainda. Afinal, o modelo da Mercedes-Benz esbanja charme, requinte e estilo, com seu design bastante arrojado e esportivo. Sem capota, o carro ganha ainda mais “appeal”. Mas nem só de rosto bonito vive um carro, até mesmo no caso do SLK. É preciso verificar se a proposta arrojada dos traços bem definidos do roadster se reflete no desempenho dos 184 cv sob o capô da versão 200 K Sport.

Inicialmente, o desempenho do SLK 200 decepciona. Isso porque as investidas no pedal do acelerador não têm uma resposta ágil por parte do conjunto propulsor/câmbio. Ou seja, o motor com compressor mecânico e a transmissão do roadster demoram a se entender até mover os quase 1.400 kg do carro. Mas essa má impressão inicial é desfeita em questão de segundos. O SLK mostra mais apetite a partir da segunda marcha. O modelo desenvolve com facilidade e o motor trabalha bem com a transmissão automática de cinco velocidades, mesmo com um buraco entre a terceira e a quarta, tem bastante agilidade nas mudanças de marcha.
Com tal desenvoltura, o SLK é capaz de chegar com facilidade aos 225 km/h de máxima. As retomadas são ainda mais espertas. O motor entrega os 25 kgfm já nas 2.800 rpm e numa faixa de giros extensa, até 5 mil rpm. Com isso, basta pisar que o propulsor enche rápido e otimiza a performance do SLK em uma ampla faixa de rotações em situações de ultrapassagem ou em trechos de subida. É na serra, aliás, onde o roadster da Mercedes fica mais divertido.

Acionando os paddle-shifts para as trocas de marcha sequenciais, o condutor tem mais poder sobre o carro.

Essa sensação de carro de competição é reforçada por outros aspectos. A direção progressiva fica pesada o bastante para dar precisão em altas velocidades e nas curvas. A estabilidade exemplar é outro ponto de destaque: suspensão bem acertada, os controles de estabilidade e de tração, em conjunto com a carroceria rígida, ajudam o SLK a praticamente “grudar” no chão, mesmo em retas acima dos 200 km/h. Mas o próprio habitáculo do SLK estimula tal esportividade. Os bancos e o painel parecem envolver e abraçar o motorista.

O arrojo, porém, também entrega a conta ao conforto. Com a capota fechada há uma sensação de aperto, não há porta-trecos e os assentos envolventes são um tanto duros e cansam o motorista em trajetos mais longos. A suspensão foi pensada para os “tapetes” das vias europeias.

Nos buracos das grandes cidades brasileiras, a filtragem é falha e os sacolejos dentro do habitáculo são inevitáveis. A própria proposta do SLK ainda compromete os acessos. Entrar em um carro tão baixo e apertado exige esforços dos ocupantes das mais variadas estaturas. Não chega a ser um preço alto a pagar para desfilar com o roadster da Mercedes.

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